quinta-feira, outubro 04, 2007

Descultura e Sem-terras


Sexta-feira, dia 28/09, dei uma palestra na cidade de João Pessoa-PB. Até aí normal, porque tenho viajado o Brasil fazendo isso. No entanto, parece que é preciso ver in loco o descaso cultural deste país. Vizinho à capital paraibana está a cidade de Sapé, berço de um dos mais ilustres poetas brasileiros, Augusto dos Anjos. Ele nasceu lá, no então Engenho Pau D'Arco, de propriedade de seus pais.
No sábado aluguei um carro para poder conhecer o tal engenho, a casa onde o poeta nasceu e viveu e, principalmente, poder ver e tocar o tamarindeiro sob a sombra do qual o poeta escrevia. Quando chego ao lugar, descubro que o governo federal desapropriou as terras, inclusive o imóvel e entregou para os sem-terras. Famílias de sem-terras moram na casa grande onde o poeta nasceu e viveu. Que as terras fossem entregues eu até aceito, mas a casa com toda a sua história é inaceitável, posto que se trata de patrimônio da cultura brasileira, portanto pertencente a cada um de nós.
Em qualquer lugar do mundo a casa teria virado um museu e estaria gerando riqueza e trabalho, inclusive qualificando os filhos dos tais sem-terras. Aqui, no entanto, vira objeto de política dita social, barata, inconseqüente e burra (o que é típico deste desgoverno do PT). A foto em anexo é a do tamarindeiro (embaixo do qual algumas pessoas realizavam um churrasco e tocavam pagode, enquanto o poeta se revirava no túmulo).

Debaixo do tamarindo
Augusto dos Anjos (1884-1914)


No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!


3 Comments:

At 7:11 PM, Anonymous Anônimo said...

Nesse momento não sei se seria melhor ser uma pessoa sem informação, ignorante, inculta, para não me indignar, mais uma vez, com o descaso com o que é público. Essa notícia é uma tristeza sem tamanho. Ninguém lutou contra isso? Será que se fosse em Minas aconteceria a mesma coisa?
Quando fico sabendo dessas coisas começo a concordar com um amigo radical que diz que o Brasil precisaria ser vítima de uma ataque nuclear arrazador para que podéssemos resconstruí-lo com mais dignidade.
Aproveito a oportunidade e indico a leitura do artigo que André Petry publicou na revista veja desta semana. Me desculpem pela indicação!

 
At 9:14 PM, Blogger witrine revista eletronica said...

oa posso comprar a veja publica aqui

 
At 7:58 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi Nailor!
Pois é, enquanto os brasileiros não se derem conta do alto valor que a cultura possui e o papel transformador que ela realiza no ser humano, nunca sairemos dessa lama onde estamos afundados e cenas como essa serão vistas por gerações e gerações, atestando a incompetência dos governantes.

 

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