Descultura e Sem-terras
No sábado aluguei um carro para poder conhecer o tal engenho, a casa onde o poeta nasceu e viveu e, principalmente, poder ver e tocar o tamarindeiro sob a sombra do qual o poeta escrevia. Quando chego ao lugar, descubro que o governo federal desapropriou as terras, inclusive o imóvel e entregou para os sem-terras. Famílias de sem-terras moram na casa grande onde o poeta nasceu e viveu. Que as terras fossem entregues eu até aceito, mas a casa com toda a sua história é inaceitável, posto que se trata de patrimônio da cultura brasileira, portanto pertencente a cada um de nós.
Em qualquer lugar do mundo a casa teria virado um museu e estaria gerando riqueza e trabalho, inclusive qualificando os filhos dos tais sem-terras. Aqui, no entanto, vira objeto de política dita social, barata, inconseqüente e burra (o que é típico deste desgoverno do PT). A foto em anexo é a do tamarindeiro (embaixo do qual algumas pessoas realizavam um churrasco e tocavam pagode, enquanto o poeta se revirava no túmulo).
Debaixo do tamarindo
Augusto dos Anjos (1884-1914)
No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!
Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!
Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!
3 Comments:
Nesse momento não sei se seria melhor ser uma pessoa sem informação, ignorante, inculta, para não me indignar, mais uma vez, com o descaso com o que é público. Essa notícia é uma tristeza sem tamanho. Ninguém lutou contra isso? Será que se fosse em Minas aconteceria a mesma coisa?
Quando fico sabendo dessas coisas começo a concordar com um amigo radical que diz que o Brasil precisaria ser vítima de uma ataque nuclear arrazador para que podéssemos resconstruí-lo com mais dignidade.
Aproveito a oportunidade e indico a leitura do artigo que André Petry publicou na revista veja desta semana. Me desculpem pela indicação!
oa posso comprar a veja publica aqui
Oi Nailor!
Pois é, enquanto os brasileiros não se derem conta do alto valor que a cultura possui e o papel transformador que ela realiza no ser humano, nunca sairemos dessa lama onde estamos afundados e cenas como essa serão vistas por gerações e gerações, atestando a incompetência dos governantes.
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