quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Histórias da vida real II

§ 3

Em 1992 eu fui (INFELIZMENTE) candidato a vereador na minha cidade.
Como não sou político e não acredito na forma como a política é praticada, resolvi que não gastaria nada, ou quase, mas, principalmente, que não faria o jogo dos candidatos habituais. Morava numa casa térrea, num bairro, e resolvi colocar uma faixa grande como meu nome e número. Aquilo atraiu muita gente.
Um dia eu estava saindo e um sujeito bateu no portão. Eu atendi:
– O senhor deseja alguma coisa?
– Eu queria falar com o candidato, seu na... na... nalhor.
Ele não conseguiu entender direito o que estava escrito, se é que sabia ler. Falar Nailor, eu imagino que seja algo muito complexo mesmo.
– Ele não está, eu disse.
– Sabe o que é, é que eu tô trabalhando para ele e ele me pediu pra passar aqui hoje pra pegar 50 dinheiros (não me lembro qual era o dinheiro da época).
– Ah, ele falou? Perguntei sarcasticamente.
– Falou pra eu passar hoje de manhã.
– O senhor é amigo dele?
– Eu tô sempre com ele, o senhor não pode me adiantar e depois pegar com ele? Disse o homem crendo que levaria o dinheiro.
– Pois eu não tenho e se tivesse não daria, nem votar nele eu vou.
O homem arregalou uns olhos e retrucou:
– Pois eu vou contar tudo pra ele, hoje à tarde a gente vai se encontrar no comitê eu vou dizer o que o senhor falou.
Naquele momento eu pensei: “até onde a cara de pau de alguém pode chegar?”

§ 4

Uma amiga que mora também na minha cidade,
contou-me que recebeu, por duas semanas, a visita de uma amiga dela, de sua cidade natal – uma cidade muito pequena do oeste paranaense. A amiga ficou encantada com as novidades do lugar maior. Depois de uma semana, desabafou coma anfitriã:
– Como esta cidade é bacana, nada a ver com a nossa! Exclamou triunfante. O pessoal de nossa cidade é muito caipira, aposto que eles nem sabem o que é hopi hari.
Minha amiga, espantada e sem muito entender a observação, disse:
– Eu também não conheço o Hopi Hari. Claro que ela pensava no parque temático do interior paulista que é conhecido no Brasil todo.
A amiga, indignada, perguntou:
– Como não conhece? Nós não fomos a semana inteira fazer um hopi hari no barzinho aqui da esquina?
Creio que na segunda e última semana da visita, ninguém fez mais happy hour.