terça-feira, julho 31, 2007

Filosofia de elevador III

A vida é um emaranhado de não-seis, às vezes cortada por talvezes e quem-sabes e quase nunca atravessada por sins e com certezas. O passado é um acúmulo de encruzilhadas, o presente um eterno caminhar descalço na areia quente da praia e o futuro uma bexiga de gás que alguém deixou escapar e nos mandou buscar no céu.

quinta-feira, julho 26, 2007

Coincidência?

"Ponha-se na Presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso ".
Trecho do livro Memórias, de Olympio Mourão Filho, Porto Alegre, L&PM, 1978. Pág. 16

segunda-feira, julho 23, 2007

O poeta que há em mim VII

O Amor é um ensaio

O amor é um ensaio
Quando perde as folhas em maio
Brota e floresce em setembro
Se bem me lembro

O amor é um pássaro de fogo
Quando queima, ensopa
Quando voa, pára
Se duvida, topa
E arde tudo à sua volta

O amor é uma refeição
É pão com geléia no café
No almoço, arroz com feijão
E no jantar de todo dia
Febre, manjar e folia

O amor é rascunho, bicho, comida
Não é morte, nem é vida
O amor é o desenho do vôo do aroma
Algo pra que se coma
Pra que se chova, pra que se ria
No inverno planta a dor
E no verão colhe a poesia

Nailor Jr

terça-feira, julho 17, 2007

Histórias da vida real VIII

Diz a sabedoria popular: tal pai, tal filho. Nem sempre isso é verdade, mas há ocasiões que a gente gente tem de dar razão ao ditado. Estou viajando, neste mês de julho, por Santa Catariana e Rio Grande do Sul para um seqüência de palestras. Ontem, 15/07, parei para almoçar em Canela-RS, numa churrascaria, que em pouco tempo estava lotada.
Enquanto comíamos, vi que um garoto de uns 10 anos, muito arrogante, passou perto de nós foi até uma mesa próxima e gritou com um senhor de uns 70 anos que estava em outra mesa. O menino gritava dizendo que o homem havia furado a fila e que eles estavam na frente dele pelo direito a uma mesa. Depois do vexame, passou de volta xingando alto e sendo conduzido para fora por uma garçom.
A mesa ao nosso lado vagou, ele voltou, sentou-se lá, e mesmo com toda a insistência do garçom para que esperasse ser chamado, disse que não sairia e não saiu. Na seqüência, chega o pai dele e, por sua vez, resolve ofender o tal senhor da outra mesa, esperando que um homem de 70 anos partisse para a briga. Eu me levantei do meu lugar e pedi que ele se acalmasse, ele resmungou um pouco, mas se aquietou. Nisso o filho brigão vira para o pai e diz:
- Demos uma lição nele e passamos na frente de uns três casais. Cambada de panacas!
O pai riu e foram servir-se na mesa de frios.

quinta-feira, julho 05, 2007

Se um dia a gente se casasse

Se um dia a gente se casasse, nós construiríamos uma casa em Santo Antônio de Lisboa e pintaríamos flores na janela e um quarto de azul, para tomar o céu só pra nós.
Se um dia a gente se casasse, compraríamos rúculas na feira pro nosso amor nunca pegar gripe.
Se um dia a gente se casasse, teríamos uma filha e a chamaríamos de Primavera, pra que o nosso mundo sempre cheirasse a flores.
Se um dia a gente se casasse, nossa cozinha teria desenho de peixes pra que a nossa comida fosse sempre um eterno mergulho no prazer de viver.
Se um dia a gente se casasse, nossa filha aprenderia, antes de falar mamãe ou papai ou ter um cachorro, que o mais importante da vida é o amor, é dormir no mesmo teto que ele, é estar junto quando estiver separado, é passear de mãos dadas por uma rua sem fim, como são as ruas das pessoas que se amam.
Se um dia a gente se casasse, teríamos redes na varanda, com franjas enormes e seríamos donos do vento, eternamente a balançar as franjas que nos balançariam também.
Se um dia a gente se casasse, seríamos a sal do nosso próprio banho, pra evitar que a água da vida se estragasse, pra espantar mal olhado, pra lambermos nossas peles e sabermos que esse amor tem tempero.
Se um dia a gente se casasse, todo dia seria o dia de deixar chover, de deixar a chuva molhar, porque dentro do peito haveria um fogo ardendo.
Se um dia a gente se casasse, casar passaria a ser uma coisa mágica, porque, depois disso, todas as capelas seriam iluminadamente brancas, todos o lugares seriam Nothing Hill e todos os sinos tocariam Tous les visages d’amour.
Se um dia a gente se casasse, os céus de novo se misturariam com a terra e, com certeza, o espírito de Deus voltaria a pairar sobre a face das águas. Terra, água, fogo e ar quatro elementos a serviço exclusivo de um garoto levado chamado amor.
Se um dia a gente se casasse, enfim, todos os homens apaixonados seriam colocados no fim da Terra para encontrar todas as mulheres de corações abertos para o amor, que os esperariam no começo do Céu.

Nailor Jr.

segunda-feira, julho 02, 2007

Histórias da Tanak's V

Essa história é, no mínimo, hilária. Ela é uma reunião de ingenuidade e grotesco. O irmão de um amigo nosso, o do shopping chamado center, de outra história postada aqui, veio passear em Maringá no início dos anos 80. Para os que não sabem, ele era bom moço, porém muito xucro, morava numa fazenda no oeste do Paraná e veio passear na casa do irmão mais velho que estudava aqui.
Na tentativa de brincar com o rapaz, os membros da Tanak's levaram-no para passear na Expoingá, quando o parque ainda era de terra e a entrada gratuita. Avisaram-no, entretanto, dos "perigos" do lugar. Previniram-no de que havia ali um espetáculo que consistia em trazer uma mulher: Mara, a bela, que se transformava em Tonga, a fera. Maratonga, a mulher macaca. A tal mulher mulher virava um grande gorila e, às vezes, ocorria dela escapar e, nesses casos, era necessário correr muito para não se machucar.
Quem já viu essa bobagem, sabe que se trata sempre de uma mulher feia, de maiô, que por meio de um jogo de espelhos parece se transformar num gorila, sumindo e reaparecendo com uma fantasia ridícula de macaco. Para aumentar o "drama" ela sempre abre a jaula e dá um pulo para frente para assustar que está assistindo. O que os amigos queriam era ver o xucrão correndo para depois gozar de sua ingenuidade.
No entanto, ninguém imaginava que ele seria corajoso a ponto de enfrentar o tal gorila. Todavia, foi o que ele fez. Quando a mulher, vestida de gorila, abriu a jaula e pulou para frente da platéia, ele desferiu um violento murro em sua testa, quebrando a máscara e desmaiando a moça.
Depois de entendido o que havia acontecido ele só repetia:
- Era ele ou eu, o macaco pulou eu bati mesmo. Eu sou do sítio, velho, lá onde eu moro não tem essa de correr não.
Ele só não sabia que se fosse um gorila mesmo, provavelmente ele teria sido morto. Viva a ingenuidade!