quarta-feira, março 28, 2007

Histórias da vida real VI

Quando eu ainda estava no começo do meu curso de Direito em Maringá, portanto no início dos anos 80, meus amigos todos também faziam universidade, em Maringá ou Curitiba. Um deles, o Luís, conhecido como Black Lu, estudava com um sujeito da região oeste do Paraná, um rapaz rico, porém bastante simplório. Tanto o Luís quanto seu amigo passaram no vestibular em Curitiba e, num certo dia, o irmão mais novo do amigo, mais simplório ainda, veio visitar o irmão universitário e conhecer as coisas da capital.
Seu primeiro desejo foi conhecer um shopping, que ele chamava de shopis.
- Eu conhecer o shopis. Disse o matuto seguro do que queria.
- Qual shopping? Aqui em Curitiba há vários, você tem algum em especial? disse o Luís tentando ser educado e prestativo.
- Tem sim, responde o rapaz. Eu quero conhecer aquele chamado center.

sexta-feira, março 23, 2007

Histórias de sala de aula IV

Quando Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly freqüentava o curso de Medicina em Porto Alegre, um professor se dirigiu a ele e perguntou:
- Quantos rins nós temos?
- Quatro! Respondeu Apparício confiante.
- Quatro? Replicou o professor, arrogante (coisa pouco comum entre médicos), daqueles que se comprazem em tripudiar sobre os erros dos alunos.
- Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala, ordenou o professor a seu auxiliar.
- E para mim um cafezinho! Emendou o aluno ao auxiliar do mestre.
O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala.
O aluno era, no entanto, ninguém menos do que o futuro Barão de Itararé (1895-1971), um dos maiores humoristas do jornalismo brasileiro do século XX.
Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
- O senhor me perguntou quantos rins “nós temos”. “Nós” temos quatro: dois meus e dois seus. Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim!

terça-feira, março 20, 2007

Histórias da vida real V

Eu viajei para o interior de São Paulo para uma palestra, na companhia do gerente de uma editora para qual trabalhei. No meio caminho, resolvemos fazer um lanche num desses postos de beira de estrada. Todos estamos acostumados a um sistema bastante democrático, você pega uma ficha gasta e marca tudo e depois vai ao caixa e de uma só vez liquida a sua dívida.
No entanto, no tal posto não era assim, a pessoa deveria ir até o balcão, escolher o que queria comer e beber, voltar ao caixa, pagar e só então ir buscar a comida e a bebida. Deveria, então, repetir o gesto tantas vezes quantas fossem necessárias até estar satisfeita. Quando soubemos disso fomos até o caixa para reclamar que esse sistema era muito antigo. Atrás de nós na fila estavam dois homens com a mesma indignação e quando eu disse que era antigo, o primeiro logo completou:
- Isso é da idade da pedra lascada!
O outro, não querendo ficar de fora, emendou:
- Que idade da pedra o quê, é muito mais antigo, isso é medieval!
Saí da fila para não rir muito ali mesmo.

sexta-feira, março 16, 2007

Histórias de sala de aula III

Numa de minhas aulas eu explicava o nascimento da modernidade e, entre outras coisas, passeei um pouco pela pintura européia, indispensável para a compreensão do assunto. Entre outros pintores visitei a obra renovadora de Vincent Van Gogh. Como a idéia era também passear pela vida das pessoas estudadas (uma fofoca cai sempre bem pra prender a atenção), contei a eles que Van Gogh havia cortado uma de suas orelhas para presentear uma prostituta. Essa era razão de tantos auto-retratos do autor com a orelha cortada. Até aí tudo estava na seriedade, quando um aluno, absolutamente esperituoso, grita:
- Pelo menos ela não podia reclamar que ele não dava ouvidos a ela!
Todos riram e eu também. Foi perfeito.

quarta-feira, março 14, 2007

Histórias de sala de aula II

Meus alunos insistem em me chamar de careca, ficam faceiros ao me ver entrando na sala só para gritar "Ô careca!", para eles é uma felicidade. Ocorre que, na verdade, não sou careca, apenas dou a impressão de que tenho deficiência de vegetação capilar, o que nada tem a ver com calvície. Tanto é verdade que o meu verdadeiro apelido é Primo It (aquela personagem da Família Adams que é todo feito de cabelos), pois basta que eu fique três ou qutro dias sem cortar e eu já fico o próprio.
Mas o caso que quero relatar não é propriamente esse. Como alguns alunos sabem que brinco sempre com a história do Primo It, alguns entram na brincadeira me chamando assim. Eu entrava numa turma quando alguém gritou "Ô Primo It", um outro aluno me perguntou na hora do intervalo, porque me chamavam de "Rebite". Eu disse que ninguém me chamava assim e ele logo emendou, "hoje mesmo o senhor entrou e alguém gritou: 'Ô Rebite!" É assim que a linguagem evolui, Primo It com o tempo e um pouco de cera no ouvido vira logo Rebite.

terça-feira, março 13, 2007

Otário dá em árvore V

Um grande amigo freqüenta há tempos o mesmo cabeleireiro, que é conhecido por falar besteiras homéricas. Num dia desses, enquanto ele cortava o cabelo e era premiado com as histórias hilárias do tal barbeiro, ouviu um comentário, desses próprios para iniciar conversa:
- Nossa, minha mulher está uma pilha de nervos!
- Ah, é? E por quê? Aconteceu alguma coisa? Perguntou meu amigo dando margem à conversa.
- Ela está nervosa com o fim da faculdade.
- Ela já está se formando?
- Sim, em Farmácia, mas está nervosa porque tem de fazer uma mamografia de fim de curso.
Nessa hora eu só imagino a cara do meu amigo, que pretendendo dar uma volta na burrada que acabara de ouvir, perguntou:
- E o curso que você fez lá em São Paulo, foi bom?
- Foi ótimo, São Paulo é outro mundo, além do curso visitei muitos restaurantes, foi bem legal. Você gosta de comida italiana?
- Eu adoro, quando estou em São Paulo gosto de ir ao Cabralzinho, uma cantina do Bexiga.
- Esse eu não conheci, disse o cabeleireiro, mas eu fui a cada tratoraria uma mais legal do que a outra.
Nessa hora meu amigo silenciou, pagou e partiu.

terça-feira, março 06, 2007

Histórias de sala de aula I

§ 1

Dizem que coincidência é uma coisa tão difícil de acontecer
que ninguém deveria dizer que foi mera. Eu estava na sala de aula hoje quando recebi um bilhete de um aluno avisando que o meu zíper estava aberto. Como este golpe é velho, nem me preocupei em olhar, mas como havia comentários e olhares estranhos e o seguro morreu de velho, olhei e estava realmente aberto. Sorri, brinquei, fechei rápido e fiz a eterna piadinha das cuecas Zorba, que mostrava um passarinho e dizia que era lá que ele gostaria de ficar. Portanto, disse que sossegassem porque eu estava de Zorba.
Qual não foi a minha surpresa quando pela porta entra uma pomba machucada e começa a andar pela sala, tranqüilamente. Não precisou nada para alguém associar um fato ao outro e dizer:
– Acho que não é Zorba não, professor, porque o bicho escapou e parece velho e machucado.

sexta-feira, março 02, 2007

Histórias da Tanak's

§ 1

Minha turma de adolescência, a Tanak’s Color, fez história em Maringá, no interior do Paraná.
Ninguém nos anos 80 entrou mais em festas de casamento sem ser convidado do que nós. Éramos eu, apelidado de Cogumelo, o Roberto, o Tanaka que deu nome à trupe por uma tontice de uma namorada dele que não era boa da cabeça, o Pio, conhecido por Harbor, o Luís, mais conhecido por Black Lu, o Hélio, a quem chamávamos de Heliogábulo (o quarto imperador da dinastia dos pretorianos, o detalhes eu omito. Nós éramos picões, mas não burros), o Paulo José, o Paul Brite, pela brancura intensa da sua cútis aveludada, o Edu, chamado de Duda’s Burguer, o Geva, o ET, o Leo, que hoje é padre, o Nando, conhecido nos meios policiais como Polenta e seu irmão Marcos, chamado de 14 Bis, pelo seu gosto por mulheres ligeiramente idosas. Estimamos hoje, depois de encerrada a nossa carreira de picões profissionais, que devemos ter furado entre casamentos e outras festas algo em torno duzentas. E é claro que aconteceram as coisas mais malucas que se pode imaginar. Algumas dessas histórias merecem que fiquem registradas para, quem sabe, entrar no MMPP (Museu Maringaense dos Picões Profissionais). Se isso acontecer deveremos ser chamados para sócios beneméritos.
Um de nossos camaradas um dia, quando voltávamos de um baile no Centro Português, e chutávamos umas latas na rua, ficou indignado com a nossa bagunça:
– Parem com isso seus vângaros!
Todos nós caímos na risada com a burrada que ele acabara de dizer e, mesmo sem combinar, todos gritaram:
– O que você falou, seu jegue?
Ele mais que depressa entendeu que chutara na trave e tentou consertar:
– Eu sei que não é vângaros é vângalos!
Sem comentários.