segunda-feira, abril 23, 2007

Histórias de sala de aula IV

Uma professora de Física, conhecida minha, ensinava que se tivéssemos duas caixas do mesmo tamanho e com a mesma quantidade de água e colocássemos a mão direita dentro de uma delas, promoveríamos um determinado deslocamento de água. Se, depois, repetíssemos, na outra caixa, a mesma operação com a mão esquerda, o mesmo volume seria também deslocado. Um aluno astuto e ao mesmo tempo malicioso, mas entendedor da matéria e de bom humor, emendou:
- Não se fosse o Lula.
A sala toda riu, e com razão, o presidente Lula não tem dez dedos nas mãos, menos massa, menos deslocamento. Todos riram, menos a minha amiga que, de forma inexperiente, colocou nosso sábio humorista para fora.

segunda-feira, abril 16, 2007

Histórias da Tanak's II

Minha turma de adolescência ficou praticamente imutável até que completássemos 21 ou 22 anos. Nesse tempo vivemos aventuras incríveis, algumas delas já relatadas. Num sábado tomamos um ônibus para a cidade de Loanda, onde moravam os pais de um de nossos membros ilustres, o falecido Roberval Castro Zorato (uma figura que daria muitas histórias). O fato que, como era sábado no começo da tarde, poucas pessoas estavam no ônibus, apenas nós (eu, ele, o Pio, o Black e o Tanaka) e uma velhinha de uns 70 anos. Como todo adolescente sentamo-nos no fundo do carro para falar besteira e contar piadas sem sermos ouvidos.
Ocorre que o banheiro nos ônibus são sempre na parte de trás, estávamos então cara a cara com ele e com aquele cheirinho característico de sopa de paletó de mendigo. A senhora resolveu visitá-lo, mas como todos sabem as portas de banheiros de ônibus fecham em dois estágios, o primeiro fecha e o segundo trava. Como se tratava de uma senhora de idade, de pouca força, ela só conseguiu fechar o primeiro estágio, até aí tudo bem estávamos numa grande reta. Ergueu a sua saia, abaixou sua calcinha (nada garante que estivesse usando, posto que isso não é um acessório comum em pessoas de muita idade, sentou-se no vaso e estava feliz (eu presumo).
Qual não foi a nossa surpresa quando o motorista faz uma curva acentuada para a direita e a porta se abriu com toda a força e prendeu na trava de fora. Imaginem a situação: ficamos todos na constrangedora situação de ver a senhora de saia no chão, sentada no vaso e sem condições óbvias de se levantar e puxar a porta. Ou ela se cobria ou fechava a porta. Nós, no entanto, não sabíamos se levantávamos e pegávamos a porta ou se saímos dali para que ela sem contrangimento o fizesse. Ocorre que essa indecisão durou cerca de alguns minutos, que pareceram horas, nem nós fazíamos nada, nem ela. Até que o falecido Roberval, apiedado da senhora, levantou-se, fechou a porta, não sem antes tentar consertar dizendo:
- Fique tranqüila senhora que a gente não viu nada, pode continuar sossegada o que senhora estava fazendo.
Foi o que ela fez e não saiu do banheiro até o ônibus chegar ao destino. E nós, como bons meninos, não rimos de nada.

terça-feira, abril 10, 2007

Duas histórias conexas

1
Duas personagens da horrível ficção da vida, Lula Molusco e Chávez do Barril, saíam de um palácio em Brasília e um perguntou para o outro:
– O que é isso, o Sol ou a Lua?
– Não sei, eu não sou daqui.

2

Eu estava me formando em Direito no ano de 1985, na Universidade Estadual de Maringá e era presidente de comissão de formatura. Para tanto, eram realizadas reuniões periódicas com outros presidentes de outros cursos para decidirmos coisas comuns, já que a formatura, naquele tempo, era conjunta.
Uma das reuniões mais importantes era para decidir quem seria o paraninfo geral de toda a universidade. Cada curso tinha o direito de indicar um nome e dez minutos para defender a sua indicação. Nosso candidato, o então secretário estadual da justiça, Dr. Horácio Raccanelo Filho (que no lugar de um jurista maravilhoso será lembrado apenas como uma avenida do centro novo), perdeu a indicação para o então ministro da educação, Marco Maciel. A presidente de outro curso (infelizmente não posso dizer qual) me perguntou:
– Quem é esse Marco Maciel?
– Como, quem é ele? É o ministro da educação, eu respondi espantado e com um sorriso de canto de boca. Ao que ela retrucou nervosinha:
– Eu não sou obrigada a saber, eu não sou daqui, sou do estado de São Paulo.

segunda-feira, abril 02, 2007

Histórias da vida real VII

Eu sou doido por melancia. No final dos anos 80 e início dos 90 eu morava na rua Tabaetê, no Jardim Tabaetê, nos fundos do cemitério da Perimetral. Aos sábados gostava de andar de bicicleta e num desses resolvi assistir a uma gincana entre os alunos do Colégio Nobel, onde trabalhava e trabalho até hoje. Fui de bike, participei do evento e ainda me exercitei. Até aí tudo bem.
Como já disse, sou doido por melancia. Na volta, resolvi parar num vendedor de frutas que tem seu caminhãozinho em frente ao Teatro Reviver, ao lado do cemitério (notem que cômico: um teatro chamado Reviver ao lado de um cemitério) e, portanto, à época, perto da minha casa. Queria levar uma melancia, mas como faria isso se estava de bicicleta? Resolvi aceitar a sugestão do vendedor:
- Eu coloco num saco vazio de laranja e você leva nas costas. Disse-me ele feliz.
Eu sou doido por melancia. Achei então a idéia muito boa, ele colocou a fruta num saco daqueles furadinhos, me ajudou a subir e como a av. Cerro Azul é descida em direção à minha casa, lá fui eu. No entanto, eu deveria passar por muitos quebra-molas (Maringá é cheia dessa praga) e cada vez que passava por um, ouvia um cccccccrrrrrréééééééccccccckkkkkkk estranho. Era saco que esgarçava.
Eu sou doido por melancia e como brasileiro eu não desisto nunca. Logo que percebi o que poderia acontecer, tombei-me para frente em direção ao guidão para exercer menos pressão sobre o saco e conseguir que ele resistisse até em casa, para tanto larguei o freio e acelerei a minha descida. Não foi o que aconteceu. O saco rompeu e a fruta bateu na roda traseira e começou a descer a avenida a toda velocidade. Eu caí no canteiro central, depois de uma freada brusca, abandonei o veículo e saí correndo e gritando:
- Segura essa melancia que é minha!
Não preciso dizer que fui o motivo de riso do sábado à tarde. Peguei a fujona, voltei até a bike, coloquei a melancia no ombro direito e comecei a descer a rua de casa (para minha infelicidade também repleta dos malditos quebra-molas). O suco da fruta foi molhando toda a minha camiseta e os cccrrréééécccckkkksss não aparavam. A melancia partiu-se em duas. Pois eu coloquei uma metade sobre a outra, empurrei a bicicleta até em casa e comi a fruta mesmo quente. Naquele dia, senti-me um herói anônimo, como diz o poeta “vencedor da idade e das procelas”.
Nunca duvidem da disposição de um homem doido por melancias.