Minha turma de adolescência ficou praticamente imutável até que completássemos 21 ou 22 anos. Nesse tempo vivemos aventuras incríveis, algumas delas já relatadas. Num sábado tomamos um ônibus para a cidade de Loanda, onde moravam os pais de um de nossos membros ilustres, o falecido Roberval Castro Zorato (uma figura que daria muitas histórias). O fato que, como era sábado no começo da tarde, poucas pessoas estavam no ônibus, apenas nós (eu, ele, o Pio, o Black e o Tanaka) e uma velhinha de uns 70 anos. Como todo adolescente sentamo-nos no fundo do carro para falar besteira e contar piadas sem sermos ouvidos.
Ocorre que o banheiro nos ônibus são sempre na parte de trás, estávamos então cara a cara com ele e com aquele cheirinho característico de sopa de paletó de mendigo. A senhora resolveu visitá-lo, mas como todos sabem as portas de banheiros de ônibus fecham em dois estágios, o primeiro fecha e o segundo trava. Como se tratava de uma senhora de idade, de pouca força, ela só conseguiu fechar o primeiro estágio, até aí tudo bem estávamos numa grande reta. Ergueu a sua saia, abaixou sua calcinha (nada garante que estivesse usando, posto que isso não é um acessório comum em pessoas de muita idade, sentou-se no vaso e estava feliz (eu presumo).
Qual não foi a nossa surpresa quando o motorista faz uma curva acentuada para a direita e a porta se abriu com toda a força e prendeu na trava de fora. Imaginem a situação: ficamos todos na constrangedora situação de ver a senhora de saia no chão, sentada no vaso e sem condições óbvias de se levantar e puxar a porta. Ou ela se cobria ou fechava a porta. Nós, no entanto, não sabíamos se levantávamos e pegávamos a porta ou se saímos dali para que ela sem contrangimento o fizesse. Ocorre que essa indecisão durou cerca de alguns minutos, que pareceram horas, nem nós fazíamos nada, nem ela. Até que o falecido Roberval, apiedado da senhora, levantou-se, fechou a porta, não sem antes tentar consertar dizendo:
- Fique tranqüila senhora que a gente não viu nada, pode continuar sossegada o que senhora estava fazendo.
Foi o que ela fez e não saiu do banheiro até o ônibus chegar ao destino. E nós, como bons meninos, não rimos de nada.