Todos que me conhecem sabem que não simpatizo com Che Guevara. Não propriamente por ele, mas pela perpetuação de um jeito antigo de ver o mundo que a imagem dele incita. Veja quantyos idiotas como Chávez, Evo Morales, Maradona e um bando de petralhas ainda o reverenciam. Não me conformo com os jovens hoje que ainda cultuam a imagem de uma pessoa que sequer conhecem. Che é como Marx, a maior parte das pessoas que falam dele, não têm a menor idéia de quem foram ou do que pregavam. São os conhecedores de orelhada, que é um mal muito arraigado no Brasil. Falam de um herói romântico e desconhecem seu lado assassino, executou peesoalmente milhares de pessoas no pós-revolução. Falam de sua amizade com Fidel e nem imaginam que Fidel o lançou para a morte na selva, porque incomodava os planos de Moscou.
Bom, não importa, não estou aqui para falar mal ou bem. Como estou em Buenos Aires estudando espanhol resolvi que começarei uma série de traduçoes de autores argentinos. Para mim será um exercício e para os meus poucos leitores uma possibilidade de encontrar textos lindos que não são publicados no Brasil.
Por que comecei falando de Che, porque li um de seus poemas, que ele declama uma parte no filme Diários de motocicleta, e quero apresentar para todos. Sem nenhum ressentimento, é o poema de homem, não de um mito. Segue o texto original e a minha pretensa tradução, ou melhor, transcriação.
Endrucijada
Che Guevara
Nos separaba de la calle
el cristal empañado de lluvia
Yo estaba lejos del mundo,
hoja caída en el remanso de su llanto.
Ella era menuda y tierna
y se hacia más menuda entre mis brazos
y más tierna bajo mis ojos.
Entre nosotros y la calle
y la lluvia y el cristal de la ventana
eran dos abismos de plata.
La vida estaba allí naufragando en sus ojos
la belleza dormía en sus senos perfumados
la luz – toda la luz – se me daba en su boca
la humanidad – mi humanidad – era ella.
Más allá del cristal
más allá de la lluvia
Pasaron…
Yo separé los ojos de ella
para verlos pasar.
Marcharan chapoteando el barro
los pies descalzos.
Desfilaban los rostros anochecidos de hambre.
Y las manos encallecidas de miseria
y las almas curvadas de injusticia
y las voces amanecidas de odio
desfilaban los pies descalzos.
Iba la madre con el hijo al cuadril
y el anciano rumoreando penas
y el mozo flameando bandera,
iban de frente hacia la vida
armoniosamente rebeldes.
No sé si me lo gritaran ellos
o si me lo gritó yo mismo.
Pero en las filas, de los que pasaban
estaban mi puesto, mi bandera y mi grito.
El cristal enpañado de lluvia
esfumaba los rasgos de la calle
por donde pasaban los míos.
Volví los ojos hacia ella
que se hacia casi yo entre mis brazos
y le dije:
- Me llaman los que pasan.
Sus ojos empañados
se me separaban de su alma
como el cristal con lluvia
me separaba de la calle.
Me dijo lentamente:
- No te vayas.
Y se hizo más menuda entre mis brazos
y me ofreció su boca palpitante
y sentí junto a mi, temblorosos sus senos.
Yo escuchaba chapotear en el barro
los pies descalzos
y presentía los rostros anochecidos de hambre.
Mi corazón fue un péndulo entre
ella y la calle…
Yo no sé con qué fuerza me libré de sus ojos
me zafé de sus brazos.
Ella quedó nublando de lágrimas
su angustia.
Tras de la lluvia y del cristal
pero incapaz para gritarme:
- ¡Espérame!
¡Yo me marcho contigo!
Encruzilhada
Nos separava da estrada
o vidro embaçado de chuva.
Eu estava longe do mundo
folha caída no remanso de seu pranto.
Ela era pequenina e terna
e se fazia ainda menor em meus braços
e mais terna sob meus olhos.
Entre nós dois e a estrada
e a chuva e o vidro da janela
havia dois abismos de prata.
A vida estava ali naufragando em seus olhos
a beleza dormia nos seus seios perfumados
a luz – toda a luz – me dava a sua boca
a humanidade – minha humanidade – era ela.
Para além do vidro
para além da chuva
eles passaram...
Separei meus olhos dos olhos dela
para vê-los passar.
Caminhavam pisoteando o barro
os pés descalços
desfilavam os rostos anoitecidos de fome.
E a mãos calejadas de miséria
e as almas curvadas de injustiça
e as vozes amanhecidas de ódio
desfilavam os pés descalços.
Ia a mãe com seu filho na cintura
o velho ruminando penas
e o moço flamejando uma bandeira,
Ian de frente fazendo a vida
harmoniosamente rebeldes.
Não sei se eles me gritaram
ou se fui eu mesmo que me gritei.
Mas nas filas dos que passavam
estavam meu lugar, minha bandeira e meu grito.
O vidro embaçado de chuva
confundia a linha da estrada
por onde passavam os meus.
Voltei meus olhos para ela
que estava quase dentro dos meus braços
e lhe disse:
- Chamam-me os que passam.
Seus olhos anuviados
separavam-me de sua alma
como o vidro com a chuva
separava-me da estrada.
Disse-me ela lentamente:
- Não vá.
E se fez mais pequenina em meus braços
e me ofereceu sua boca palpitante
e senti junto a mim seus seios trêmulos.
Eu escutava o pisotear do barro
dos pés descalços
e pressentia os rostos anoitecidos de fome.
Meu coração tornou-se um pêndulo
entre ela e a estrada...
Eu não sei com que forças me libertei de seus olhos
me safei de seus braços.
Ela ficou nublando de lágrimas a sua angústia
por trás da chuva e do vidro,
mas incapaz de gritar-me:
- Espera por mim!
- Vou caminhar com você!
Transcriação: Nailor Marques Jr