Histórias da Tanak's IV
Sou professor, escritor e palestrante,nas áreas educacional e empresarial, já publiquei 19 livros impressos e um e-book e falei mais de 950 vezes no Brasil e no exterior. Escrevo artigos em alguns sites que podem ser encontrados pela internet apenas com o meu nome. Sou o criador da Lei de Zeca, título de um dos meus livros. Posso ser encontrado também no www.atelierderedacao.com.br
A dor inventada
Chega, se acalma e senta
e me responde o que a dor da tua alma venta
Quantas vezes eu não te soprei flores?
Quantas vezes eu não te falei borboletas?
Quantas vezes eu não te sorri frutas?
Quantas vezes eu não te futurei amoras
quando tudo que eu tinha
era apenas o aqui e o agora?
Chega, se acalma e senta
e aceita que a pior das dores de amor
é a que a alma da gente inventa.
O amor não dá carona
Convida a voar
O amor não tem consciência
O amor tem consciência demais
O amor chora e nem é notado
Então ri quando se percebe só
O amor é nó sobre nó
Faz fuxico, manha
O amor de manhã vira pó
Bota o amante pra fora
Esquenta o leite e faz café
O amor vai ao supermercado
E só compra geléia de morango
O amor detesta chuchu
Mas come com gosto
No azul do primeiro encontro
O amor é doce e ponto
O amor nunca é uma oração subordinada
É coordenado
Aditivo e descoordenado
O amor não quer regras
É agramático, apolítico e aético
O amor rói as unhas
Fica dodói
Se mói de ciúmes
Vai à janela e enxerga o vazio
Espera doído um telefonema
O amor tem sempre um problema pra resolver
O amor canta errado no banheiro
E ri feliz
Porque sabe que a felicidade
Está sempre por um triz
O amor é de carne e osso
Mais osso
Mais tutano
O amor é ponto perdido
Entre Saturno e Urano
O amor está em constante pagamento
Mas o amor é pobre
Não tem lenço, nem documento
Só identidade de mentirinha
Carteirinha de clube
O amor vai ao circo
Vira palhaço
Brinca de mágico
Tira moeda da orelha
E flores do coração
O amor é brincalhão
Pede o que não pode
Dá o que não tem
O amor está sempre devendo o amor
O aluguel
E a última prestação da casa própria
O amor ia mudar de país
Mas descobriu
Que o amor não tem nação
Que ele é apenas
Uma criança levada
Que se esconde em qualquer coração.
O ponto de ônibus fica três quarteirões de casa. Desço a rua escura, calmo e muito devagar, contando os passos e observando a vizinhança.
Uma coisa me intriga: por que todos os vizinhos que não estão em casa deixam a luz da varanda acesa?
É uma pergunta tola. Talvez mereça uma resposta mais tola ainda.
A luz acesa indica que há gente em casa. Mas só as casas que não têm gente é que têm a luz acesa. É isto que me intriga.
Serão os ladrões tão burros a ponto de não saber essa regra simples?
Luz acesa ninguém; luz apagada, gente em casa.
Se eu sei, creio que todos, inclusive os ladrões também sabem. Mesmo assim desço a rua me perguntando.
Entro em casa, apago a luz da varanda, ligo a televisão e deixo de filosofar.
Lá fora a vida segue seu rumo normal.